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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

(Romance) O lado obscuro de Mariana


Autor; L.L.S

I- Noite Escura

Um blecaute inesperado, todas as luzes acesas se apagam simultaneamente
alguns gritos de susto (ouvimos)  A cidade está mergulhada no escuro,
escutamos muitos burburinhos, e algumas gargalhadas estridentes
um breve suspense se espalha entre todos, dissipando pouco a pouco a euforia
artificial das pessoas que ainda se encontravam na rua, longe da segurança de suas casas.
Os últimos sons de vozes que ouvimos, foram de despedidas e de boa noite,
o silêncio veio ao encalço de todos, como o perseguidor pisando na sombra
insegura, de seus foragidos. 

—Precisamos voltar!

Um prenuncio de chuva forte uivava através dos ventos,
e, eu precisava leva-la de volta, seus pais deveriam estar muito preocupados com ela.

Mariana me surpreendeu, (eu esperava a qualquer momento)
que ela demonstrasse alguma  reação de medo ou insegurança.
E tudo o que eu consegui notar e ouvir dela, foram algumas cantinelas sussurradas,
das quais eu podia apenas ouvir, e por mais que tentasse não entendia a letra dessas canções.
Parecia estar extasiada e apreciando a escuridão que nos cercava, e quando resolveu
me responder foi em tom estranhamente sarcástico;

—Coitadinho! —Você tem medo do escuro?
—Tens medo de mim agora, que não podes mais me enxergar?

(a estranho completamente)...

A Mariana que aceitou o convite para sair comigo, naquela noite,
jamais seria tão irônica assim, "eu a conhecia há muito tempo
ou melhor dizendo; (pensava que a conhecia)"

Tinha os cabelos mais castanhos e lisos que eu já tinha visto,
e era em meio a eles, que o belíssimo e meigo rosto dela se destacava.
Como um luar de brilho intenso, "só quê, em uma noite sem estrelas"
foi assim que eu havia me apaixonado por ela, Admirando a sua beleza.

Preferi não responde-la, tentando convence-la que deveria leva-la de volta para a sua casa.
Mas ela enlaçando o seu dedo mindinho ao meu, deixou claro que ela não tinha
nenhuma intenção de voltar, não agora. Já estávamos nos arredores da cidade, quase
chegando a estrada do campo que termina aos pés de uma pequena colina,
aonde resiste preservada a misteriosa sede abandonada, da fazenda Senzala.

II- A estrada do campo

"Não posso negar que apesar da preocupação que eu tinha, com a tempestade anunciada,
eu estava empolgado! Ela é perfeita acrescento-lhe também ousadia, bela e destemida,
 e isso me inspirava arroubos e excitação,
Mas não queria tirar proveito daquela situação."

—Mariana precisamos voltar, —já está ficando tarde e nos distanciamos muito da cidade!

 Mais uma vez sou surpreendido por ela ao dizer;

—A noite está perfeita! —Como eu desejei que fosse. —apenas me acompanhe
—quero te levar a um lugar que costumo ir, —o frequento desde a minha infância 

 "Como uma menina tão meiga, frágil e dócil como ela poderia ter na mémoria lembranças
boas de um lugar sombrio e triste como aquele."

—Amanhã de dia você me mostra! —Prometo busca-la no inicio da tarde.
—Está muito escuro e não conseguiremos ver nada nesse breu  Mariana.

Insisto, mas é inútil não consigo persuadi-la, seus disparates eram mais insistentes do que eu.
  
A velha e sinuosa estrada do campo, era um lençol de areias brancas,
sua textura abaixo de nossos pés e seu fraco contraste na escuridão nos guiava,

—Olha tem de ser a noite mesmo! —E quanto mais escura for (melhor ainda)
Agora estou perplexo e atordoado, ouvindo-a dizendo isso.
—Será que Mariana sofre algum tipo de distúrbio mental?
 (suspiro) Tomara que não,

 III Encantado e despercebido

Me recordo, que era para ser apenas um simples passeio, e que eu havia preparado tudo
para que ele fosse um passeio muito romântico, e no decorrer do mesmo eu
tinha a intenção de pedi-la em namoro, já havia até mesmo deixado transparecer
isso aos seus pais quando fui busca-la em sua casa.

Agora também me recordo que alguma coisa estava errada desde o inicio,
quando ela disse a eles; —Não nos esperem acordados, não sei a que hora voltaremos!
E isso me motivou e me deixou mais confiante, ela estava tão linda que não considerei
os gestos de silêncio que eles fizeram a ela, como se soubessem de algum segredo,
do qual não iriam interferir para que ele fosse revelado.

Entre uma vez e outra, ela se encosta sobre o meu corpo e isso me conforta,
e me encoraja. Eu a amo mesmo assim, em meio ao seus disparates.
Ela estava tão perfumada, que me sentia caminhando em meio à um campo de flores.

—Eu estou vendo eles!!! Ela me assusta e rapidamente a pergunto; —Quem você está vendo?
Aquela história estava indo longe demais, estávamos completamente sozinhos ali,
era impossível enxergar alguém naquela escuridão tão densa. —Consegui ouvi-los?
"Ela me fez essa pergunta"  estou certo que ela é mesmo maluca, mas não a trato
como se fosse. Procuro agrada-la —Quem são eles? —E o que eles estão dizendo ou fazendo?

IV Os fantasmas de Mariana

 —Aquele com as costas feridas é Ajandu Sirhan,
Ele me disse estar colhendo botões de flores
Para sua mulata preferida "Adanna Zunduri...."

Sou tentado a confronta-la;

—Você está querendo me dizer —que está tendo visões do passado?
—e elas são dos tempos da escravidão?

Se houvesse sequer uma pequena nesga de luz
sobre o meu rosto, ela enxergaria perfeitamente,
o meu espanto misturado com uma dose forte de pura incredulidade, seguida de
um esforço mudo, para não soltar uma desleixada e duvidosa gargalhada.

["Todos conheciam as histórias, e horrores que povoavam as lendas
da antiga fazenda Senzala, e não foram poucos os arrendatários daquelas terras
que desistiram de cultiva-la, e todos os relatos coincidiam, entre si,
todos que passaram por ela juravam que a fazenda era mesmo assombrada.

Com base em superstições e boatos, seguidamente confirmadas
(Mesmo sendo farta de nascentes de agua, e ter uma terra muito fértil)
A fazenda Senzala estava fora do interesse de agricultores e fazendeiros da região,
que preferiam investir e expandir suas áreas de cultivo em terras que diziam
 não serem Amaldiçoadas."]
 
Agora eu me encontrava sozinho com alguém que insiste em afirmar,
que não só, ver estes fantasmas, como também os conhece (um a um)
relatando seus aspectos, e dizendo-me os seus nomes.

—O esquecimento é mesmo uma prisão —e a ignorância é um falso paraíso.
Disse-me isso, e depois me replicou com severidade,
—Você é mesmo um tolo acorrentado há uma pequena pedra!
—(conseguiria facilmente se libertar, mas prefere arrasta-la contigo aonde quer que vá)

Ela estava decepcionada comigo, era mesmo uma pessoa muito sensível,
uma sensibilidade notoriamente muito apurada, ela parecia saber mesmo de tudo,
"o que eu estava pensando e sentindo naquele momento."

Tive muita vergonha de mim mesmo, nessa hora
permanecendo calado por um bom tempo, tentando me entender melhor.

E cheguei a uma conclusão —não sabia porquê [?] mas continuava amando-a,
mesmo diante dessa sua confusão mental que ela deixava transparecer,
sentia necessidade de continuar amando-a, foi ai que eu então decidi,
permanecer sob quaisquer circunstâncias do seu lado.

Eu sempre acreditei, quê, quem ama se lança ao impossível se preciso for!
Comecei a imagina-la como uma pessoa extremamente incrível,
fui inspirado através do que existia, apenas aos olhos dela,
e a admirar os relatos sobrenaturais contados por ela.

Houve então entre nós dois uma fusão de vontades,
—Obrigado! ela sussurrou em meus ouvidos, e logo depois me deu um beijo reconfortante,
e mesmo sem dizer nenhuma palavra,
eu pude sentir que iniciávamos a nossa cumplicidade juntos.

—Devemos nos apressar, todos os dias a essa hora,  os escravos de almas Ajani
são castigados. —com você ao meu lado, me sentirei mais forte para ajuda-los.

"Que loucura!" Eu estava adorando estar ali,a partir daquele ponto,
(aonde assumi, os riscos dessa loucura e jurei o meu amor por ela.)
Minha quimera de amor começou a ganhar vida,
e um romance surreal nasceria nas sombras do sobrenatural.

Eu estava sendo arrastado por ela, que corria pelas terras 
tomadas pela escuridão, como se fosse dia.

—chegamos!?! —consegui perceber pelos vultos
do casarão em ruínas da antiga fazenda.

Contornamos aquele fantasmagórico, casarão que parecia nos seguir,
com as suas janelas rangentes. E, a mais profunda escuridão
parecia escapar por entre as suas frestas e tentavam nos engolir.

Chegamos ao que parecia ser os galpões e paióis, 
me assusto muito, com o choro desesperado de Mariana...

—É aqui que  nascem os gritos de dores, implorando para serem mortos.
 —estou vendo Abebe e seus filhos estão sendo castigados, acorrentados ao tronco
―sendo forçados a olharem a maldade nos olhos de seus agressores, 

—Quem os castiga? (aflito e impotente eu me sentia)  Mariana estava sofrendo
e seu pranto me arrastava para junto dela e nada deste mundo nem d'outro,
arrancaria ela de minhas mãos.
Tentava ocupa-la com diversas de perguntas, mas o que eu precisava mesmo
era ganhar tempo para acalma-la e para compreende-la,
(queria ajuda-la) e para isso eu tinha de conhecer melhor a sua cabecinha tão atordoada.

Escuto sua voz doce e desconsolada, dizendo coisas do outro mundo
como se realmente estivesse lá, presenciando tudo aquilo que a atormenta...

—Getro o capataz! —Incitado por Ernesto, chefe dos capitães-do-mato (este)
tem alma perturbada, arrasta o inferno para afligir os que foram libertados pela morte.
 —Estão bêbados e se divertem juntos, arrancando dores da alma de Abebe e de seus filhos,
eles foram apanhados enquanto perseguiam os seus sonhos de liberdade.
—Abebe e seus filhos estão me pedindo que os ajudem a escapar.

A empatia deve ser mesmo um carma, uma estigma predestinada 
para as mais puras e bondosas almas. Tento acalma-la, quero protege-la,
quero que ela saiba disso, e que sinta que nunca mais estará sozinha,
nem mesmo na mais densa das escuridões que possas repousar sobre a sua alma.

—preciso fazer alguma coisa logo estarei de volta!
Antes que eu conseguisse lhe dizer mais alguma coisa,
Ela desmaia em meus braços.

Sou invadido pelos fados e elegias que esmiúçam e despedaçam
o coração dos mais valentes Bardos,
quando são castigados pelo destino
a viverem longe de suas amadas.

"A mais linda de todas as rosas
agora é um corpo perfumado
desprendido de sua alma,
protegido apenas por meus braços."


V Não quero perdê-la  na escuridão


—O medo de não tê-la de volta
me fez prometer que jamais a deixaria...
"Insistentemente a chamo, —tentando acorda-la,
Mas ela não reage e parece se perder
Dentro daquele mundo de fantasias"

Penso em voltar para a cidade
Andei ,por um bom tempo
carregando ela em meus braços,
eu estava muito desesperado.

Precisa buscar ajuda, mas não conseguia
encontrar o caminho de volta. (mas ele foi engolido)
Pela escuridão, apenas me guio pelo que ouço
Naquela noite só se conseguia ouvir os trovões
rugindo por todos os lado no céu

—logo virá a tempestade...?
E nem mesmo um abrigo conseguia encontrar,
para nos abrigarmos.

E, quanto mais eu me desesperava,
mais ainda, eu me perdia
sem saber o que havia acontecido com ela
tive medo que ela pudesse morrer em meus braços.

As únicas luzes a nossa volta eram fracas e muito pequenas,
olhos de pirilampos assustados ziguezagueando na escuridão
e eles eram como estrelas vagando pelo universo perdidas
Na mais profunda inércia, eu me sentia sozinho e abandonado
num infinito de trevas que pareciam não ter fim...

Eu me perdia. Com medo do que poderia acontecer naquela noite

E,se, ela não mais voltasse? E se o teu olhar não mais brilhasse...?

Minha vida estaria plantada nas margens obscuras
deste segredo. Auroras que precedem a candura dos dias
não mais trariam para mim os seus enredos,
pra que me serviria então a luz dos novos dias?

...Se meus olhos não conseguissem mais a encontrar,
não mais desejava estar aqui quando o dia chegar.

Aquela que eu amo, é como a brisa que navega na superfície do mar,
—Sim! "Ela estava perdida dentro de uma noite sem luar."
   
As horas estavam sombrias e lentas
A madrugada estava se aproximando 
—Dava pra se notar o seu esforço,
naquela maldita escuridão, pesada e densa.

Passou se um bom tempo
e, eu me sentia muito cansado,
de lutar contra aquele profundo silêncio
que vinha de seu corpo inanimado

De repente, muito rápido
Ela volta, tão depressa
como havia partido

(Depois de um suspiro muito forte)
Como alguém
que se desvencilhou dos braços de sua própria morte
ela desperta,
 (e, eu não preciso da luz para enxergar teu brilho)

—O amor não é apenas um sentimento,
"ele é um dom, que para sempre nos liberta."

  —Ainda estás aqui! ela suspira, ao encontrar-se
com o amor que eu havia prometido a ela.

Naquele exato momento,
a tempestade anunciada desistiu
Ao longe já avistávamos o clarão
artificial das luzes da cidade...
E a lua pairada no céu,
despejava a sua luz na escuridão.
 
 
Continua...
 

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